O parasito – Schistosoma mansoni
Amanda Santos – estudante de biologia
Schistosoma mansoni é uma espécie de helminto que habita o sistema venoso, ou seja, habita os vasos mesentéricos e o sistema porta de mamíferos, aves e alguns répteis. Este helminto é estudado desde 1851 quando foram observados durante uma necropsia de um jovem egípcio. No Brasil, o primeiro registro de Schistosoma foi feito pelo médico baiano Pirajá da Silva em 1908. Desde então tem sido muito estudado por causar a esquistossomose, popularmente conhecida como xistose ou barriga d’água. Existem seis espécies do gênero Schistosoma, porém este texto se concentra no Schistosoma mansoni, o único encontrado no Brasil, sendo responsável por infectar mais de 2,5 milhões de brasileiros. Diferente de outros helmintos trematódeos, na fase adulta é dioico, ou seja, apresenta o sexo separado, com diferenças entre macho e fêmea. São organismos complexos e realizam dois tipos de reprodução, sexuada e assexuada, em fases diferentes da vida. O ciclo assexuado, acontece no hospedeiro intermediário, caramujos aquáticos do gênero Biomphalaria e o sexuado ocorre no hospedeiro definitivo, mamíferos, sendo o ser humano o principal hospedeiro definitivo.
O ser humano é infectado pela forma larvária do helminto, a cercaria, que foi liberada de moluscos, sendo o contato feito em águas de córregos e lagoas ou qualquer coleção de água doce contaminada das áreas endêmicas. A cercaria tem o corpo alongado e cilíndrico com cerca de 500 micrômetros de comprimento e com uma cauda bifurcada na extremidade facilitando o seu deslocamento. O corpo é dividido em duas regiões: a) anterior onde estão os órgãos de fixação e invasão, e b) posterior onde estão as glândulas que desembocam nas ventosas oral e ventral (acetábulo), onde estão localizadas as células dos sistemas digestivo, nervoso, osmorregulador e muscular e as papilas sensoriais e células germinativas que darão origem aos órgãos sexuais nos vermes adultos.
As cercárias nadam ativamente em busca do hospedeiro definitivo, reagindo a estímulos como gradientes térmicos e substâncias presentes na pele deste hospedeiro. Elas penetram na epiderme do hospedeiro definitivo e passam por mudanças para adaptar ao novo ambiente, entre elas a perda da cauda e adoção da respiração anaeróbica. O tegumento do parasito torna-se especializado para absorção e secreção além de atuar como local das respostas imunes do hospedeiro. Com essas transformações as cercárias passam para a fase de esquistossômulo.
Os esquistossômulos se deslocam da epiderme em direção a derme até chegar nos vasos sanguíneos e em alguns casos no sistema linfático. Este processo leva cerca de 4 a 5 dias após a penetração. Os esquistossômulos passam pela pequena circulação (coração – pulmão) e param no pulmão, onde permanecem por cerca de 2 a 3 dias. Durante esta parada sofrem mudanças no tamanho e apresentam atividade metabólica intensa. Saem da rede vascular dos pulmões e vão em direção ao fígado.
Cerca de uma semana após a penetração o parasito, agora na fase de esquistossômulo, chega ao fígado e passa por processo de amadurecimento, transformando-se em verme adulto jovem, atinge o amadurecimento sexual e realiza a cópula.
Schistosoma mansoni possui dimorfismo sexual, ou seja, existem diferenças entre o macho e a fêmea. Quando adultos a fêmea chega ao comprimento de 14 mm, com corpo filiforme e coloração castanho escuro, possuem duas ventosas pequenas e o corpo escavado com poucos espinhos. O macho é menor chegando até 10 mm de comprimento e corpo esbranquiçado. Na região anterior estão localizadas as ventosas oral ovalada e ventral (acetábulo) que é mais proeminente. Posteriormente encontram-se três regiões distintas: inferior mais alargada e posterior, ambas cobertas por espinhos afilados de diferentes tamanhos e o fundo da cavidade oral. Macho e fêmea realizam a reprodução sexuada podendo permanecer acoplados pelo resto da vida.
Após quatro a cinco semanas da penetração o verme, já adulto, migra da região hepática, via sistema porta para os vasos mesentéricos. Possivelmente porque o sangue dessa região contém nutrientes necessários para o desenvolvimento do helminto, além de estimular a oviposição que é realizada na submucosa dos vasos de menor calibre da parede intestinal. A oviposição conta com 3 fases que dependem da idade da fêmea: fase de produção inicial, fase de máxima produção e fase de redução progressiva. A fêmea com um a dois anos realiza postura diária de mais ou menos 400 ovos.
O ovo é formado por células de dois órgãos da fêmea: glândulas vitelínicas e ovário, e o sexo é definido cromossomicamente no ovo fertilizado, sendo o macho homozigoto (zz) e a fêmea heterozigoto (zw). Os ovos fertilizados são pequenos e de organização simples com o zigoto envolto em uma casca proteica com densa série de micro espinhos na parte externa. Logo após a postura, os ovos passam por quatro estágios de transformações morfológicas e fisiológicas onde aumentam até três vezes o tamanho. O ovo maduro (com miracídio formado) mede cerca de 150 micrômetros de comprimento por 65 micrômetros de largura. Apresenta espinho na região posterior formado pela membrana externa da casca. Eles atingem o intestino e são eliminados com as fezes, assim podem chegar em córregos e lagoas ou qualquer coleção de água doce em torno de 20 dias. Após eclosão dos ovos os miracídios penetram nos caramujos e dentro deles passa por transformações. Após algum tempo o caramujos eliminam cercárias que na água que infectam os seres homens quando entram na água, fechando assim o ciclo evolutivo do parasito. Alguns ovos migram para o fígado sendo responsáveis pelas complicações da doença no hospedeiro.
Para saber mais:
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância da Esquistossomose mansoni: diretrizes técnicas. 4Ed, Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
CARVALHO, OS.; COELHO, PMZ, LENZI, HL. Orgs. Schistosoma mansoni e esquistossomose: uma visão multidisciplinar. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,2008.
FRIED, Bernard.; TOLEDO, Rafael. Biomphalaria Snails and larval Trematodes. Springer
SOUZA, Felipe Carlos de Souza; VITORINO, Rodrigo Roger; COSTA, Anielle de Pina; FARIA JUNIOR, Fernando Corrêa de; SANTANA, Luiz Alberto; GOMES, Andréia Patrícia. Esquistossomose mansônica: aspectos gerais, imunologia, patogênese e historia natural [revisão].Rev Bras Clin Med. São Paulo,2011, julho-agosto,9(4): 300-307.